ONU quer banir<br>armas nucleares
Uma comissão da Assembleia Geral da ONU aprovou na quinta-feira, 27, uma proposta de resolução pelo lançamento de negociações, a partir de Março, para um tratado destinado a banir as armas nucleares. Apresentada pela Áustria, Irlanda, México, Nigéria, África do Sul e Brasil, a proposta foi adoptada com 123 votos a favor, 38 contra e 16 abstenções, apesar da intensa campanha desenvolvida contra a iniciativa, designadamente pelos EUA.
Segundo a agência de notícias japonesa Kyodo, os EUA enviaram uma mensagem aos seus aliados da NATO apelando a que votassem contra o rascunho de resolução e ignorassem as conversações caso tenham início como previsto. «Os EUA pedem aos seus aliados e parceiros não apenas para se absterem na votação, mas para votarem contra o processo de negociação sobre o acordo que proíbe o uso de armas nucleares. Além disso, se as conversações começarem, apelamos aos aliados e parceiros para que não participem delas», refere o documento, datado de 17 de Outubro, alegando, diz a agência, que caso a resolução antinuclear entrasse em vigor isso poderia influir «de modo directo» na hipótese de os EUA realizarem os seus compromissos quanto à política de dissuasão na NATO e na região do Pacífico e, também, na possibilidade de os aliados e parceiros dos norte-americanos participarem nas operações conjuntas com potências nucleares.
A posição norte-americana foi reiterada pelo embaixador dos EUA, Robert Wood, ao afirmar que Washington «não aceita a premissa subjacente ao apelo para negociar um instrumento juridicamente vinculativo para proibir armas nucleares».
«Embora respeitemos os pontos de vista dos proponentes, discordamos da praticabilidade da sua abordagem e estamos preocupados com os efeitos negativos da proibição das armas nucleares, sem considerar o ambiente global de segurança internacional», disse o diplomata, citado pela Kyodo.
Já o embaixador austríaco, Franz Josef Kuglitsch, antes da votação, defendeu que um «instrumento jurídico que proíbe as armas nucleares será uma base sólida para a construção de instrumentos adicionais, levando à eliminação total de armas nucleares para atingir e manter um mundo sem armas nucleares».
Momento histórico
Para além dos EUA, votaram contra a resolução, entre outros, a Inglaterra, França, Rússia, Japão e Coreia do Sul, enquanto a China se absteve, bem como a Índia e o Paquistão.
Os opositores argumentam que o desarmamento nuclear deve ser alcançado em negociações no âmbito do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (NPT, na sigla em inglês), mas a directora executiva da Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares, Beatrice Fihn, considera o resultado da votação um «momento histórico» na longa caminhada de décadas por um mundo livre de armas nucleares.
«Este tratado não vai eliminar as armas nucleares de uma vez. Mas vai estabelecer um poderoso novo padrão legal internacional, estigmatizando as armas nucleares e compelindo as nações a actuarem urgentemente no desarmamento», disse, citada pela agência AFP.
De acordo com a mesma agência, a resolução agora aprovada deverá ir ao plenário da Assembleia Geral da ONU para votação em fins de Novembro ou início de Dezembro, e será o tema de uma conferência em Março de 2017, onde será negociado um «instrumento legalmente vinculativo para a proibição das armas nucleares, que deverá levar à eliminação total das mesmas».